2.6.11

Descobri que sou anti-antipetistas!

Não costumo reproduzir integralmente textos de outros autores para representar o que penso, mas sempre há exceções. O texto reproduzido abaixo é do filósofo Moysés Pinto Neto, o qual reúne seus ótimos textos no blog O Ingovernável. Ele trata de um assunto que cada vez mais é recorrente na sociedade brasileira, principalmente a classe média, que é crescimento do anti-petismo. As pessoas que aderem a isso geralmente formam um senso comum de que o PT é o partido mais corrupto e que faz tudo errado. Pronto, a partir daí cresce e fica arraigado um sentimento de repulsa doentia em relação à tudo que, para eles, soe “petista”. Lógicamente que os “argumentos” usados para retratar o ódio que sente os antipetistas são baseados em questões como: moral, religiosa e principalmente pessoal. Tudo isso se deve quase que exclusivamente a crença cega dos mesmos nos grandes meios de comunicação. Eles não tem senso crítico em relação à isso e são avessos a buscar outras fontes de informações. Com isso, o que é publicado pela grande imprensa passa a ser a verdade absoluta e a relação promíscua desta com a política não é levada a sério. Outra característica de todo anti-petista é se declarar “não partidário”, mas não enxergam que ao mesmo tempo estão sendo partidários.
O texto que reproduzirei a seguir, é daquele tipo que você se sente totalmente contemplado naquilo que pensa sobre o assunto. Foi o que eu senti assim que acabei de lê-lo. Confiram:

“ANTI-ANTI-PETISMO
Uma das polêmicas mais célebres do final do século XX travou-se entre os brilhantes intelectuais norte-americanos Clifford Geertz e Richard Rorty. Geertz, rechaçando os universalismos nostálgicos que alertavam contra os “perigos do multiculturalismo”, posicionava-se como um anti-anti-relativista. Do outro lado, Rorty defendia, em resposta a essa posição, um anti-anti-etnocentrismo. A ambos incomodava sobretudo os “antis”, ou seja, aqueles que, no intuito de se posicionarem contra algo, distorcem esse algo a tal ponto que ele fica irreconhecível.
Não sou petista. Votei em Dilma no segundo turno e em Tarso Genro no primeiro não porque sou petista, mas porque não sou antipetista. A meu ver, eram os melhores candidatos nas circunstâncias. Não me identifico mais com o PT nem com seus principais políticos, nem reconheço na sua atuação grande parte do que suas plataformas têm de mais positivo e inovador. Não me sinto abrangido pelo petismo, tendo identificado alguns rastros do que eu gostaria de ver defendido na candidatura Marina Silva ao Planalto. Tento desenvolver isso aqui no blog nos últimos posts, tratando sobretudo da reconfiguração do cenário político no século XXI.
Conheço pouca gente tão chata quanto petistas dogmáticos. Detesto gente que acredita votar em um partido infalível. Detesto quem tem aquela visão fanática, caolha e cansativa que parece não ter visto os últimos 20 anos passarem. Só tem algo que detesto mais que esses petistas: os antipetistas. Nada pode ser mais burro do que aquele que se define pelo verso do outro. Nada pode ser mais entediante, previsível e anacrônico do que a retórica antipetista. Nada pode ser mais lamentável do que ver alguém que, na falta de ideias, vive traçando a caricatura do outro, atacando o outro para sobreviver. Falou que Lula é um “bêbado” ou que Dilma é “terrorista”, para mim é burro(a).
Evidente que isso não significa que a política não viva do conflito, do confronto, da oposição. É claro que sim. Porém não se trata, a rigor, de um confronto de ideias, mas sim de estereótipos, de projeções, de dramas mal-resolvidos e sobretudo de ignorância. No imaginário do antipetista, tudo que é petista é maldito, imundo, baderneiro. Portanto, para o antipetista o mundo está organizado; o petista é que quer bagunçar. Isso, evidentemente, só pode ser admissível para o conservadorismo mais atroz, haja vista que qualquer mínima sensibilidade permite perceber que o mundo em que vivemos é insuportavelmente injusto, violento e irracional. O antipetista se protege dos problemas que lhe poderiam tirar da zona de conforto por meio de uma denegação sistemática, traduzindo esse mecanismo a partir da imagem do petista baderneiro. Vive das imagens mais toscas, caricatas e dos preconceitos mais arraigados. Mantém o senso comum mais rasteiro e vulgar. Não é capaz de questionar minimamente sua doxa, reagindo com ódio e agressividade diante de todo aquele que lhe questionar. Em outras palavras, todo antipetista está muito próximo, se não coincide, com o fascista. Seu ódio é um ódio difuso e ilimitado, um ódio no fundo contra toda e qualquer possibilidade de transformação e esperança, haja vista ser ele simplesmente um poço sem fundo de medo. Todo esse medo ele projeta sobre uma única figura que serve como bode expiatório da sua projeção: o PT. Elimine-se o PT e os problemas acabam.
Isso é tão rasteiro, tão vulgar, tão incomensuravelmente simplório que só me resta me definir atualmente como um anti-anti-petista. Não me comprometo com o PT nem com suas políticas. Vejo pontos críticos nevrálgicos no “Projeto Chinês” que os Governos Lula-Dilma estão levando adiante. Porém a oposição antipetista (que não é toda oposição, mas boa parte dela) é ainda pior. Ser anti-anti-petista não é aderir ao PT, não é ratificar os absurdos que o PT pratica no poder, mas simplesmente não rejeitar a priori o PT como se ele fosse a imagem do mal sobre a Terra, como se ele fosse simplesmente aquele nome proibido que não pode ser dito – como se ele fosse um tabu. Ser anti-anti-petista é um convite, afinal, ao fim da burrice e início da política.”


Quem quiser ler direto no blog acesse aqui.◦
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